terça-feira, 8 de dezembro de 2015

MÁXIMAS ETERNAS DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO MEDITAÇÕES PARA TODOS OS DIAS DA SEMANA.

                                                                                       MÁXIMAS ETERNAS
DE
SANTO AFONSO DE LIGÓRIO
MEDITAÇÕES PARA TODOS OS DIAS DA SEMANA.

ATOS PREPARATÓRIOS A MEDITAÇÃO ( Conforme edição de 1934)

1-      Reaviva, ó minha alma, tua fé; põe-te na presença de Deus e adora-o profundamente.
2-      Humilha-te aos pés de Deus e pede-lhe sinceramente perdão.
3-      Solicita a luz de Deus por amor de Jesus Cristo; recomende-se a Maria Santíssima e aos Santos com uma Ave Maria, Glória ao Padre.
             Lê a meditação bem de vagar. Após todos os pontos medita na máxima eterna. Terminada a consideração, toma o propósito de  remover tal e tal vicio.

SEGUNDA FEIRA:
O PECADO MORTAL.

1-      Considera minha alma, o que fazer quando cometes um pecado mortal! Das as contas aquele Deus que te criou e te cumulou de benefícios; desprezas a sua graça e a sua amizade. Quem peca diz com os fatos e Nosso Senhor: ¨Nem servia; apartai-vos de mim, pois não quero obedecer-vos, não vos quero servir, não vos quero reconhecer por meu Senhor. O meu Deus é aquele prazer, aquela vingança, aquele ódio, aquela conversação obscena, aquela blasfêmia. Pede-se imaginar ingratidão mais monstruosa de que esta? Entretanto, minha alma, tudo isto fizeste, quando ofendeste ao teu Senhor.

2-      Maior se torna esta ingratidão, refletindo que para pecar, serve-te das mesmas coisas que Deus te deu: Ouvido, olhos, boca, língua, mãos, pés, são todos dons de Deus, e tu deles te servistes para ofendê-lo !Ah, ouve pois o que te diz o Senhor: ¨Filho, eu te criei nada; dei-te tudo o que tens, fiz-te nascer na verdadeira Religião. Podia deixar-te morrer quando estavas no pecado; conservei-te a vida para não condenar-te ao inferno; e tu, esquecido de tantos benefícios, queres servi-te dos meus próprios dons para ofender-me?¨ Quem não se sentirá tomado de profundo pesar por ter feito tamanha injuria a um Deus tão bom, tão benfazejo para conosco suas criaturas?

3-      Considera ainda que este Deus, embora seja bom e infinitamente misericordioso, toda- via fica muito indignado quando o ofendes. Por isso, quanto mais tempo viveres no pecado, tanto mais vais provocando e acumulando a ira de Deus contra ti. Deves, portanto recear muito que os teus pecados cheguem a tal numero que ele por fim te abandone. Não que isto aconteça por te faltar a misericórdia divina, mas é que te faltará o tempo para pedir perdão, pois que não merece a misericórdia de Deus que dela abusa para ofende-lo. Com efeito, quantos viveram no pecado, na esperança de converte-se e, entretanto chegou a morte e faltou-lhes o tempo para disporem os negócios da consciência, e agora estão eternamente perdidos!  Teme que a mesma coisa não aconteça também para ti.   

            De graças a Deus por ter-te esperado até agora, e toma desde já uma firme resolução dizendo: Basta, meu Deus, o pouco de vida que ainda me resta não a quero esperdiçar em ofender-vos; hei de emprega-la em vos amar e chorar os meus pecados. Arrependo-me de todo o coração. Meu Jesus quero vos amar; dai-me força. Virgem Santíssima, Mãe de meu Jesus, ajudai-me.        

TERÇA FEIRA:
A MORTE.

1-      A morte é a separação da alma do corpo, com abandono total das coisas deste mundo. Considera, portanto ó cristão, que a tua alma deverá separar-se do corpo; mas não sabes onde se dará esta separação. Não sabes si a morte te assalta na tua cama, ou durante o trabalho, ou na rua, ou em outra parte. A ruptura de uma veia, um catarro, uma hemorragia, uma febre, uma chaga, uma queda, um terremoto, um raio, bastam para te tirar à vida. Isso pode acontecer daqui a um ano, daqui a mês, a uma semana, a uma hora, e talvez  ao terminar a leitura de esta consideração . Quantos se deitaram a noite cheios de saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos acometidos de algum ataque morreram de repente! E depois para onde foram? Se estavam na graça de Deus, felizes deles! Gozarão para sempre. Si, pelo contrario se achavam em pecado mortal, estão para sempre perdido. Dize-me; se tivesse que morrer neste instante, que seria de tua alma? Ai de ti, si não te manténs sempre preparado! Para bem morrer, corre grande perigo de morrer mal.

2-      Embora seja incerto o luar e incerta a hora de tua morte, é porem muito certo que a morte há de vir. Quero esperar que a ultima hora de tua vida não venha repentinamente ou de modo violento, mas aos poucos e procedida de uma doença comum. Mas há de chegar um dia no qual, estendido numa cama, estarás preste a passar para eternidade, assistido por um Sacerdote que encomendará sua alma, tendo um Crucifixo ao lado,  uma vela acesa do outro, em derredor os parentes que choram. Terás a cabeça dolorida, os olhos embaraçados, a língua ressequida, a garganta presa, a respiração ofegante, o sangue a arrefecer, o corpo consumindo, o coração aflito. E logo que a alma expire, e teu corpo vestido de poucos andrajos será lançado a apodrecer em uma cova. Ai os ratos e os vermes roerão todas as tuas carnes e de ti restarão apenas quatro ossos descarnados e um pouco de pó nauseabundo. Abre um sepulcro e vê a que ficou reduzido àquele jovem rico, aquele ambicioso, aquele soberbo. Lê com atenção estas linhas, e lembra-te que elas também se aplicam a ti igualmente como a todos os demais homens. Agora o demônio, para induzir-te a pecar, procura arrancar-te deste pensamento e levar-te a excursar a tua culpa, dizendo-te não ser enfim tão grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela omissão da missa nos domingos; mas na hora da tua morte descobrir-te-á a gravidade destes e de outros teus pecados, pondo-os diante de si, E que haverás de fazer tu então, no ponto de te encaminhares para a tua eternidade? Ai de quem se achar em desgraça de Deus naquele momento!

3-   Considera que do instante da morte depende a tua eterna salvação ou a externa perdição. Nas proximidades da morte, ao avizinhar-se aquela ultima vez que se fecha a boca, a luz daquela vela, quantas cousas se hão de ver!  Duas vezes temos diante de nós uma vela acesa; quando somos batizados e em ponto de morte; a primeira vez, para conhecermos os preceitos da lei divina que devemos guardar; a segunda, para vejamos se os temos cumprido. Por isso, meu filho, a luz dessa vela hás de ver si amastes o teu Deus ou si o desprezaste; si honraste o seu santo nomeou si o blasfemaste; hás de ver os dias santos profanados, as missas deixadas, as desobediências aos superiores, os maus exemplos dados aos outros; verás aquela soberba, aquele orgulho que te lisonjeava; verás... mas, oh! Deus! Tudo verás naquele momento, no qual se abrirá diante de ti o caminho da eternidade: Momentum a quo pendet eternitas. Ó grande, ó terrível momento, do qual depende uma eternidade de glória ou de tormentos! Compreendes bem o que de digo? Quero dizer que daquele momento depende ir para o Céu ou para o Inferno; ser para sempre feliz ou para sempre infeliz; para sempre filho de Deus ou para sempre escravo demônio; para sempre gozar com os Anjos e com os Santos do Céu ou gemer e arder para sempre com os condenados no inferno!
            E agora, põe-te na presença do teu Deus e dize-lhe de coração:  Meu Deus, deste este momento eu me converto a Vós; amo-vos, quero amar-vos e servir-vos até a morte. Virgem Santíssima, minha mãe, ajudai-me naquele terrível momento, Jesus, Maria e José, expire em paz entre vós a minha alma.

QUARTA FEIRA
O JUISO

1-      O juízo é a sentença que o Salvador há de pronunciar no fim de nossa vida, sentença com a qual fixará o destino de cada um por toda a eternidade. Apenas a alma tiver saído do corpo, comparecerá logo perante o Supremo Juiz. A primeira cousa que torna este comparecimento terrível à alma do pecador é que a alma se encontrará sozinha na presença de um Deus, desprezado, de um Deus que conhece todos os segredos do nosso coração, todos os nossos pensamentos. E que levaremos aquele pouco de bem ou de mal que tivermos feito durante a vida. Não se pode então inventar nem excusa nem pretexto nenhum, Santo Agostinho, falando deste tremendo comparecimento, diz: ¨Quando, tu ó homem, compareceres diante do Criador para seres julgados, terás sobre tua cabeça um juiz indignado; de um lado os pecados que te acusam; de outro os demônios prontos a executar a condenação; dentro de ti uma consciência que agita e te atormenta, debaixo de ti um inferno aberto, pronto a tragar-te. Em tais apertos, para onde irás, para onde fugirás?¨Feliz de ti se tiveres feito o bem durante a tua vida. Entretanto,  o divino Juiz abrirá os livros da consciência e começará o exame: Judicium sedit, et libri apérti sunti.

2-      Então dirá aquele Juiz inapelável: Quem és tu? - Sou cristão, responderás. Bem, replicará ele, si és cristão, vamos ver si procedeste como cristão. Em seguida começará a recordar as promessas feitas no Santo Batismo, pelas quais renunciastes ao demônio, ao mundo, à carne; lembrar-se-á as graças que te concedeu as muitas vezes que recebestes os Sacramentos, as pregações, as instruções, os avisos dos confessores, as correções dos pais; tudo será posto diante de ti.  Mas tu, dirá então o divino Juiz, apesar de tantos dons, de tantas graças, oh quão mal correspondestes á tua profissão de cristão! Mal chegando a idade em que apenas começava a conhecer-me, começas-te a ofender-me com mentiras, com faltas de respeito na Igreja, com desobediências a teus pais e com muitas outras transgressões dos teus deveres. Ainda bem si com o correr dos anos tivesses melhorado o teu procedimento; mas não; justamente com a idade aumentou em ti, infelizmente, também o desprezo á minha lei. Missas perdidas, profanação dos dias santos, blasfêmias, jejuns não observados, confissões mal feitas, comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos outros; eis o que fizestes em vez de servi-me. Voltar-se-á para o escandaloso, cheio de indignação dizendo:
             Vês aquela alma que caminha pela estrada do pecado? Foste tu, com as tuas conversas imorais, que lhe ensinaste a malicia. Tu, como cristão que és, devias ensinar com o bom exemplo o caminho do Céu ao teu próximo pelo contrario, traindo o meu Sangue, lhe ensinaste o caminho da perdição. Vês aquela alma lá no inferno? Foste tu com teus pérfidos conselhos que a arrancaste a mim para entrega-la ao demônio. Foste tu a causa de sua eterna perdição. Agora pague a tua alma por aquela outra que deitaste a perder com o teu escândalo.
            Que te parece, ó cristão, deste exame? Que te diz a consciência? Estás ainda em tempo, si quiseres. Pede a Deus perdão de teus pecados e faze um sincero propósito de não tornar a pecar; começa desde hoje uma vida de bom cristão, preparando-te assim um tesouro de boas obras para o dia em que deverás comparecer perante o tribunal de Jesus Cristo.

3-      Á vista das rigorosas contas que o Juiz supremo exige do pecador, tentará este aduzir alguma excusa ou pretexto, dizendo que não sabia que deveria ser submetido a um exame tão rigoroso. Mas receberá esta resposta: E não ouviste aquele sermão e aquela explicação do catecismo? Não leste naquele livro que eu haveria de pedir rigorosas contas de tudo? O infeliz então se encomendará á misericórdia divina; mas a misericórdia não é mais para ele. Porque, não merece misericórdia quem por tanto tempo dela abusou e porque na morte termina o tempo da misericórdia. Recomendar-se-á aos Anjos, aos Santos, a Maria Santíssima; e Maria responderá por todos: Agora é que pedes o meu auxilio? Não me quiseste por mãe durante a vida e agora já não te quero por filho; já te não conheço. Então o pecador, não encontrando mais nenhum refugio, bradará as montanhas, aos rochedos que o cubram e eles não se moverão. Invocará o inferno e vê-lo-á aberto. Este é o momento em que o inexorável Juiz proferira a tremenda sentença: Filho infiel dirá, para longe de mim. Meu Pai Celeste te amaldiçoou; eu também te amaldiçoo. Vai para o fogo eterno a gemer e sofrer com os demônios por toda a eternidade. Discédite a me, maledicti, in ignem aetérnum. Aquela alma infeliz, antes de afastar-se para sempre do seu Deus, volverá pela ultima vez o olhar ao Céu e no auge da desolação dirá: Adeus, parente, adeus, amigos, que habitais o reino da glória, Adeus, pai, mãe, irmãos, irmãs; vós que gozareis para sempre e eu serei  para sempre atormentado. Adeus, meu Anjo da guarda, Anjos e Santos todos do Paraíso; não vos tornarei a ver jamais. Adeus, ó Salvador, Adeus, ó Cruz santa, adeus ó Sangue em vão por mim derramado, não vos tornarei a ver mais. Desde este momento eu não sou filho de Deus; serei para sempre escravo dos demônios no inferno. Então alma, arrastando-a e empurrando-a, a farão cair nos seus abismos de torturas, de misérias, de tormentos eternos. Ó alma, não receias que tal sentença seja também a tua? Ah!  Por amor de Jesus e Maria, prepara com boas obras uma sentença favorável e lembra-te que como é terrível a sentença proferida contra o pecador, igualmente consolador será o convite que há de dirigir Jesus a quem viveu cristãmente. Meu Jesus concedei-me a graça de poder ser também eu um desses bem-aventurados. Virgem Santíssima ajude-me; protegei-me na vida e na morte e especialmente quando me apresentar ao vosso Filho para ser julgado. 

QUINTA FEIRA
O INFERNO

1-       O inferno é um lugar destinado pela justiça divina como suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenados sofrem no inferno é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena; os olhos sofrem pela vistas dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos, dia e noite, só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. O olfato sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre e pez ardente que sufoca. A boca é atormentada por sede devoradora e fome canina; At famen patientur ui canes. O mau rico no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu como grande graça, uma pequena gota de agua para mitigar a aridez de sua língua e também essa gota de agua lhe foi negada. Por isso aqueles infelizes, requeimados de sede, devorados pelas chamas atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam. Óh! Infernos, inferno! Como são infelizes os que caem nos teus abismos! E tu que dizes, ó alma? Si tivesses que morrer neste instante, para onde irias? Si agora não podes aguentar nem uma fagulha de fogo na mão sem gritar, não podes conservar um dedo sobre a pequena chama de uma vela, como poderás aguentar-te então entre aquelas chamas por toda a eternidade?

2-      Considera, além disso, ó cristão, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão um inferno na memória, na inteligência, na vontade. Recordarão continuamente o motivo da sua perdição, isto é, por terem querido secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: Vemis eórum nom móritur. Recordarão o tempo que Deus lhe deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos outros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. A vontade nada terá de que deseja e ao contrario padecerá todos os males. A inteligência conhecerá finalmente o grande bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar por um instante o esplendor do Paraiso, ouve talvez também os cantos harmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor ver que tudo isso perdeu para sempre! Quem poderá resistir a tais tormentos?

3-      Ó alma, tu que agora não te imporás de perder o teu Deus e o Paraiso, conhecerás a tua cegueira quando vires tantos conhecidos teus, mas ignorantes e mais pobres do que tu, triunfarem e gozarem no reino dos Céus ao passo que tu serás amaldiçoado por Deus e serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia, pois, faze penitência, não esperes para quando não haver mais tempo; entrega-te a Deus. Quem sabe si não é este o ultimo chamado e, si não correspondes quem sabe si Deus não te abandona e não de deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! Meu Jesus livrai-me do inferno: A poemis inferni libera me, Domine!
SEXTA FEIRA
A ETERNIDADE DAS PENAS

1-      Considera, ó alma, que si fores para o inferno, nunca mais dele sairás. Lá se sofrem todas as penas e todas eternamente. Passarão cem anos desde que caíste no inferno, passarão mil anos e o inferno estará ainda em seu começo; passarão cem mil, cem milhões, passarão milhões de séculos e o inferno estará principiado. Si um Anjo levasse aos condenados a noticia que Deus os quer libertar do inferno depois de passados tantos milhões de séculos quantas são as gotas de agua do mar, as folhas das arvores e os grão de areias da terra, esta noticia lhes causaria a maior satisfação. É verdade, diriam, que devem passar ainda séculos, mas um dia hão de acabar. Pelo contrario, passarão todos estes século e todos os tempos que se possam imaginar e o inferno estará sempre no principio. Todos os condenados fariam de boa vontade com Deus o seguinte papo: Senhor: aumentai quanto entenderdes este meu suplicio; deixai-me nestes tormentos por quanto empo quiserdes, contanto que me deis a esperança, de que um dia hão de acabar. Mas nada; esta esperança, este termo nunca chegará.

2-      Si ao menos o pobre condenado pudesse enganar-se a si mesmo e iludir-se dizendo: quem sabe, um dia talvez terá Deus piedade de mim e me arrancará deste abismo! Mas não, nem isto; verá sempre escrita diante de si a sentença de sua eternidade infeliz, Pois então, irá ele dizendo, todas estas penas, este fogo, estes gritos, nunca mais acabarão para mim? Não lhe será respondido, não, jamais. E durarão sempre? Sempre por toda a eternidade, sempre, verá, escrito naquelas chamas que queimam; sempre, naquelas portas eternamente fechadas para ele. Ó eternidade! Ó abismo sem fundo! Ó mar sem praias! Ó caverna sem saída! Quem não tremerá ao pensar em ti? Maldito pecado! Que tremendo suplícios preparas para quem te comete! Ah! Nunca mais, nunca mais pecados durante  a minha vida.

3-      Mas o que te deve encher de pavor é pensar que aquela horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés e que é suficiente um só pecado, mortal para lá te fazer cair. Compreendes bem, ó alma, o que estás lendo? Uma pena eterna por um só pecado mortal, que  cometes com tanta facilidade. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias santos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno basta para seres condenado ás penas do inferno. Escuta, pois, ó cristão, o meu conselho; Si a consciência te acusa de algum pecado, vai depressa confessar-te para começar uma vida boa. Põe em pratica todos os meios que te indicar o confessor, Si for necessário, faze uma confissão geral. Promete que has de fugir das ocasiões perigosas, das más companhias e si Deus te indicasse até que deve deixar o mundo, segue logo a sua voz. Tudo o que se fizer para evitar uma eternidade de tormento sé poucos, é nada. Nulla nímia securita, ubi periclitatur aeternitas.(S.Bern.). Óh! Quantos na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, os parentes, foram viver isolados nas cavernas, nos desertos, alimentando-se somente de pão e agua, e até ás vezes só de raízes, e tudo isto para evitar o inferno! E tu que fazes, depois de tantas vezes que merecestes o inferno com o pecado, que fazes? Lança-te aos pés do teu Deus e dize-lhe: ¨Senhor estou pronto a fazer o que Vós quiserdes; nunca mais vos tenho ofendido; mandai-me todos os sofrimentos que quiserdes durante esta vida, contanto que eu possa salvar a minha alma¨.
                      
SABADO
O PARAISO

1-        Quanto nos apavora o pensamento e a consideração do inferno, igualmente nos consola a lembrança do Paraíso, preparado por Deus para todos os que o amam e o servem durante esta vida. Para que possas fazer dele uma ideia, contempla uma noite serena como é belo contemplar o Céu com aquela multidão e variedade de estrelas! Umas menores, outras maiores: enquanto umas despontam no horizonte, outras estão prestes a desaparecer; todas porém com boa ordem e segundo a vontade do seu Criador. Acrescenta a isto a visão de um belo dia, mas de tal forma que o esplendor do Sol não ofusque a claridade das estrelas e da Lua. Supõe, além disto, ter a mão tudo o que de belo se pode encontrar no mar, na terra, nos povoados, nas cidades, nos paços dos reis e dos monarcas do mundo inteiro. Acrescenta a isto as bebidas mais delicadas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a harmonia mais suave. Pois bem: tudo isto junto não é nada em comparação da excelência, dos bens, dos gozos o Paraiso. Oh! Como bem mercê ser desejado e ardentemente amado aquele lugar onde se goza de todos os bens! O bem-aventurado não poderá deixar de exclamar: Estou saciado da glória do Senhor: Satiabor cum apparuerit glória tua.

2-        Considera, além disso, o gozo que inundará a tua alma ao entrares no Paraiso. O encontro e o acolhimento; a nobreza, a beleza dos Querubins, dos Serafins, de todos os Anjos e de todos os Santos, que aos milhões e milhões, louvam o Criador; o coro dos Apóstolos, a multidão imensa dos Mártires, dos confessores, das Virgens. Há também um exercito enorme de almas que, por terem conservado a virtude da pureza, cantam a Deus um hino que ninguém mais pode entoar. Oh! Quantos gozam naquele reino os bem aventurados! Sempre mergulhados na alegria, sema menor doença, sem desgosto e preocupações que perturbam a sua paz e o seu gozo.

3-        Considera, além disso, ó alma que todos os bens até aqui considerados são um nada em comparação do grande prazer que se experimenta na visão de Deus. Ele alegra os bem-aventurados com o seu olhar amorável e derrama no seu coração um mar de delicias. Da mesma forma que o Sol ilumina e embeleza o mundo inteiro, assim Deus, com a sua presença ilumina todo o Paraiso e enche os seus afortunados habitadores de gozos inefáveis. Nele hás de ver, como em um espelho, todas as cousas, gozarás de todos os prazeres da mente e do coração. São Pedro no Monte Tabor, por ter visto um só vezo rosto de Jesus radiante de luz, ficou repleto de tanta doçura que exclamou fora de  si: Senhor bom é para nós que fiquemos aqui: Dómine, bónum est nos hic esse. E lá teria ficado para sempre. Que prazer não será pois contemplar, não, por um instante, mas para sempre, para sempre gozar desse rosto divino que enleva os Anjos e os Santos e que aformoseia todo o Paraiso! E a beleza e amabilidade de Maria, de que prazer deve também encher o coração do bem-aventurado! Oh! Sim! Quanto são amáveis os teus tabernáculos, ó Senhor! Quam dilecia, tabernacula tua, Dómine virtutuium! Por isso os coros dos Anjose dos bem-aventurados cantam a sua glória dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos. A Ele seja dada honra e glória por todos os séculos.  Coragem pois ó alma; neste mundo terá que sofrer alguma cousa, mas não importa; o que hás de receber no Céu compensará infinitamente todos os teus sofrimentos, Que consolação não será a tua quando te encontrares no Céu, na companhia dos parentes, dos amigos, dos Santos, dos Bem-aventurados e exclamares: Estou salvo e estarei sempre com Deus; Semper cum Dómino  erimus. Então é que hás de abençoar a hora em que abandonaste o pecado a hora em que fizeste aquela boa confissão e começaste a frequentar os sacramentos e te entregaste à virtude; e cheio de gratidão te volverás para o teu Deus e cantarás seus louvores e sua glória por todos os séculos.
                                  
DOMINGO
FIM DO HOMEM

1-      Considera, ó alma, como Deus, criando-te á sua imagem. Deu-te esta vida que possuis. Sem merecimento algum de tua parte, recebeu-te por filho adotivo, amou-te mais que um pai e criou-te afim de que o amasses, nesta vida, e o servisses, para gozá-lo depois no Paraíso. Não nasceste, pois, nem deves vive para deitar-te, fazer-te rico e poderoso, nem para comer, beber, e dormir, como os animais brutos, mas unicamente para glorificar teu Criador; nisto consiste todo o ser e a substancia do homem: servir a Deus e salvar-se. Todas as cousas criadas foram por Deus postas a teu uso, para que servissem de auxilio na consecução do teu grande fim. Quais terríveis remorsos, pois, sentirás na hora da morte, si te não aplicares em servir a Deus Que pesar, quando no ermo da vida percebes ter passado os dias em trabalhos e sofrimentos fora de teu fim e que não resta naqueles momentos si não um nada de todas as riquezas, honras, glórias e prazeres! Assombrar-te-ás vendo como por simples vaidades e  cousas insignificantes puseste em tão grande perigo a salvação eterna, sem poder ao menos refazer o mal praticado e não mais dispor de tempo para entrar no bom caminho. Que desespero! Que tormento! Verás então- e tardiamente – quanto vale o tempo! Quererias recupera-lo, com prejuízo de todas as riquezas, mas impossível! Oh, dia doloroso esse, para quem não serviu e não amou a Deus!

2-      Considera, portanto, a importância em alcançares teu grande fim. Seu valor, é superante, está acima de tudo o mais; porque si o conseguires estarás salva, serás eternamente feliz, gozarás todo bem na alma e no corpo. Si, contrariamente, não o atingires, perderás  alma e corpo, Paraiso e Deus, e serás para sempre desgraçado e eternamente um réprobo. Portanto este é o negócio dos negócios, o único útil, o único necessário, o único importante; servir a Deus e salvar-se. Si perdemos agora uma possessão, fica uma segunda; um erro qualquer temporal cometido pode ser emendado; mas, si não obténs o fim de tua vida, perdes todos os bens e adquires irremediavelmente todos os males para a eternidade infeliz. De que vale ao homem, diz o Senhor, conquistar odo o mundo e vir a perder sua alma? Este é tão somente o nosso único trabalho: salvarmo-nos. Pobre de mim há tantos anos sirvo ao mundo, este mundo falaz e traidor! Dele que  encontro? A vida consumada, o coração aflito. Deus ofendido, a alma dolorida, o Céu que perdi o inferno merecido!  Pai das luzes. Atrai-me para o vosso amor, deste século perverso.

3-      Considera, como este negocio eterno é de todos o mais descurado. Em tudo pensamos, na salvação nunca. Para tudo há tempo, menos para a alma. Si dizemos a um mundano, que frequente os sacramentos, que faça meia hora de oração ao dia, responde logo: tenho filhos, propriedades para tratar, outros serviços me prendem a atenção. O Deus! E não tens a alma para salvar? Estás por acaso no mundo para  desfruir as cousas vãs e transitórias?  Não, mas para glorificar teu Criador e merecer o reino do Céu. Que loucura rematada procurar-se demasiadamente com o que há de acabar tão depressa, e quase nada pensar no que jamais terá fim! Considera. Cristão e dize interiormente, contigo mesmo: Tenho uma alma; si a perco vai-se tudo juntamente com ela. Tenho uma alma, si, com prejuízo desta, ganho todo um mundo, de que me adianta? Si acumulo riquezas, si aumento a casa, si nobilito os filhos, e perco a minha alma, tiro dai algum bem? A fruição de um gozo nesta vida é momentânea, na outra, é externa. O sofrimento neste mundo é breve, mas no inferno as penas não tem fim. A alma  que eu tenho, que é verdadeiramente minha, si a perco uma vez, esta perdida e não há mais remédio para este erro; portanto não devo pensar em salvar-me?

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